“Criatividade da juventude é fundamental para mudar a
sociedade”, afirma dirigente do MST
9 de agosto de 2012
Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST
O MST organiza a 3ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra,
no mês de agosto, para estimular a construção de debates e espaços de
organização da juventude.
A jornada abre espaços de discussão dos jovens dos
acampamentos e assentamentos do Movimento, desde questões do cotidiano, a
participação na organização e o papel da juventude como força política de
transformação.
"A criatividade da juventude é fundamental para
transformar as relações sociais e criar uma nova sociedade", afirma o
coordenador do Coletivo de Juventude do MST, Raul Amorim.
“Debater o papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na juventude, que não está dissociada na luta de classes“, avalia.
“Debater o papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na juventude, que não está dissociada na luta de classes“, avalia.
Abaixo, leia a entrevista completa à Página do MST.
Qual o objetivo da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra?
O objetivo da jornada é estimular a organização e o processo
criativo da juventude, além de criar momentos de formação, com debates sobre
temas mais amplos - como a globalização e o funcionamento do agronegócio - até
temas do dia a dia dos jovens, como a diversidade sexual, aborto e questões de
gênero.
O elemento novo dessa jornada é o seu caráter consultivo.
Não há uma programação dada pelo Movimento. A jornada abre espaço para debates
sobre a realidade e trocas de experiência.
Por isso, não debatemos o que o Movimento quer de sua juventude, mas o
que a juventude quer com o projeto de Reforma Agrária.
Que tipo de ações devem acontecer durante a jornada?
Há uma diversidade de ações possíveis. Os acampamentos de
juventude, por exemplo, são espaços para os jovens se organizarem, realizando
debates e encontros. Também ocorrem atividades dentro das escolas, como
torneios esportivos, de futebol, vôlei, xadrez, e seminários para debater a
agroecologia, os desafios da juventude e nosso projeto de Reforma Agrária.
Além disso, vamos ter oficinas de teatro, música,
audiovisual, fotografia, rádio, que ajudam a estimular uma criação da
comunicação popular e uma reflexão sobre o tipo de comunicação hegemônica que
temos na nossa sociedade.
Por fim, vai haver um momento de luta, onde as oficinas
serão transformadas em elementos de agitação e propaganda, dando a identidade
da juventude nas lutas. A jornada tem um
caráter interno, mas ao mesmo tempo nós construímos esse dia de luta, no qual a
nossa juventude vai se juntar com outras organizações de juventude do campo e
da cidade para se mobilizar.
Quais os temas serão discutidos na jornada?
Um dos principais temas da jornada é a educação,
principalmente as escolas no campo. Dentro da investida do agronegócio e do
neoliberalismo, há um claro projeto de redução da população camponesa. Isso
teve como reflexo um sucateamento das escolas no campo. Quem mora no campo e
precisa estudar é obrigado a se locomover para a cidade. O nosso embate
vai no sentido de construir um modelo de
educação para o campo e para a juventude camponesa. Não queremos só o acesso a
educação, mas uma educação voltada para o campo.
A dificuldade que as escolas enfrentam são grandes: 94%
delas não tem internet com banda larga; 15% não tem energia elétrica e 50% dos
professores não tem graduação. Pensar a educação do campo é pensar no tipo de
escola que queremos para formar o campesinato.
Na jornada, estamos estimulando que a juventude tenha consciência do seu
papel. A construção da educação no campo perpassa pela auto-organização da
juventude, seja em grêmios, grupos de teatro ou conselhos de classe, que agreguem
professores e direção para a construção de uma educação no campo de qualidade.
Mais temas são debatidos na jornada?
Um tema importante é o trabalho com geração de renda, que
além de visar a autonomia dessa juventude, possa promover o protagonismo, não
só dentro da estrutura familiar, mas também na construção dos assentamentos. A
juventude deve pensar que tipo de assentamento quer e se inserir no processo
produtivo e político dos assentamentos, como na luta pelas agroindústrias.
A jornada mostra o espírito de luta da juventude, que
precisa se organizar tanto internamente como com a juventude de outros
movimentos do campo ou da cidade. A juventude é um ator político, que pensa os
novos desafios impostos pela luta de classes.
Qual a importância da organização da juventude no MST?
Toda geração tem o direito de pensar seu tempo com a sua
força, a partir da sua realidade. A juventude precisa conhecer seu papel. Esse
processo de organização não pode ser paralelo ao da luta de classe ou das
organizações políticas.
Os jovens do campo, segundo dados oficiais de 2010,
totalizam 8,1 milhões de pessoas. Destes, 2,4 milhões se encontram em extrema
pobreza. A classe dominante utiliza isso para criar uma leitura da realidade de
que o desenvolvimento da sociedade está na cidade, e o campo é atrasado, o que
causa a migração para a cidade.
Mais de 40% da juventude na cidade também se encontre na
pobreza. Se a maioria da juventude se encontra nessas condições, debater o
papel da juventude é definir um posicionamento de classe, pois a maioria da
juventude se encontra junto à classe trabalhadora. Há uma diversidade na
juventude, que não está dissociada das condições impostas pela luta de classes.
Nesse sentido, a organização da juventude serve para
potencializar a reflexão da realidade, a formação política, a diversidade de
conhecimentos. Deve ser um espaço de amadurecimento político para enfrentar a
nova fase do capitalismo financeiro, aliado aos bancos e empresas
transnacionais. Não é um processo a parte da luta de classes, mas um momento de
preparação, que estimula a criatividade da juventude. A criatividade da
juventude é fundamental para transformar as relações sociais e criar uma nova
sociedade.
Como a juventude pode contribuir para criar novas formas de
luta política?
Na recente organização da juventude, acumulamos bastante no
espaço da agitação e propaganda, porque é onde trazemos os elementos artísticos
e da comunicação. Para isso, é preciso ter criatividade. Um exemplo importante
é a luta do Levante Popular da Juventude, movimento ao qual nos somamos, que
usa o elemento criativo do esculacho para realizar suas ações. Isso mostra que
as formas de luta não estão paradas. A juventude pode contribuir na criação de
formas diferenciadas e criativas para enfrentar o capital.
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