quarta-feira, 20 de junho de 2012

“Não se pode mais pensar nos jovens do campo sem relacioná-los com as novas tecnologias”

Diante do êxodo de jovens do meio rural, discutiu-se a importância de políticas que favoreçam a permanência desse segmento social no campo.

“Campo sustentável é campo com gente, onde se respeita o saber das comunidades”, afirmou Ana Carolina Silva. Ângela Guimarães defendeu a importância de enxergar a juventude brasileira de modo plural, na medida em que os jovens do campo têm demandas diferentes daquelas apresentadas pela juventude urbana. A própria juventude rural é bastante diversa, já que se constitui por jovens campesinos, quilombolas, indígenas ou ribeirinhos, por exemplo. Um dos laços que une esses jovens é a necessidade de estarem conectados, a fim de produzirem um conteúdo inovador.  Ana Carolina elogiou a atuação crescente da juventude rural em debates amplos e profícuos nas redes sociais.

Ângela Guimarães lembrou que, atualmente, o principal meio de informação já não é mais a televisão, mas a internet, o que gera novas possibilidades de participação dos jovens em uma comunicação mais horizontal. Para ela, “não se pode mais pensar nos jovens do campo sem relacioná-los com as novas tecnologias”. O acesso às tecnologias é essencial para que o debate da juventude rural no mundo, mas Ângela acredita que a inclusão dos jovens não pode ser realizada apenas pela presença de equipamentos, como computadores. É necessário um conjunto de políticas públicas que levem também a educação, a cultura e o esporte para as áreas rurais. 

A certeza de que os jovens querem produzir uma informação crítica e inovadora que corresponda às suas demandas e anseios foi consensual no debate. Raul Amorim, no entanto, criticou as dificuldades ainda encontradas no campo brasileiro: “O sinal de telefonia mal chega”, disse. De acordo com o integrante do MST, 94% das escolas rurais ainda não têm banda larga e 15% não têm sequer energia elétrica. Para Raul, é importante que os jovens tenham meios de produzir sua própria representação do campo, negando a estética da pobreza e os padrões da indústria cultural. 

Por isso, Raul acredita que deve ser facilitado o acesso não só às novas mídias, mas também a outras formas de comunicação, como as rádios comunitárias, que ainda enfrentam inúmeros obstáculos burocráticos e legais para funcionarem e multiplicarem-se. “As rádios comunitárias são cerceadas o tempo todo”, concordou Aroldo de Oliveira. Os participantes afirmaram a necessidade de integração do governo com a população e os movimentos sociais para a construção de um novo modelo de sociedade. 

Referindo-se às políticas adotadas pelo governo federal, Aroldo de Oliveira opinou: “O projeto é louvável e pertinente, mas deve ser desenvolvido de forma dialógica. Não pode ser uma via de mão única”. 
Após o encerramento do debate, Ângela Guimarães falou sobre a complexidade das demandas da juventude rural: “São demandas por desenvolvimento integral, que passa não só pela permanência da sua produção no campo (por meio do fortalecimento da agricultura familiar), mas também por ter o que fazer no seu tempo livre, por ter equipamento de esporte, por ter acesso a novas tecnologias de informação e de comunicação e uma série de outras dimensões que dizem respeito a sua própria vivência humana”. Para Ângela, a juventude rural deseja sua permanência no campo, mas por meio de políticas públicas que levem em consideração a sua realidade específica. 

Texto: Camila De' Carli

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