sexta-feira, 8 de junho de 2012

Novas gravações comprometem Perillo

Escuta da Polícia Federal obtida pelo Correio confirma a tese de que empresário beneficiado com contratos em Goiás serviu de laranja para Carlinhos Cachoeira comprar imóvel do governador Autor(es): JOSIE JERONIMO 
Correio Braziliense - 08/06/2012
Marconi Perillo entrega documentos a parlamentares membros da CPI: governador tenta se desvencilhar das acusações que o ligam a Cachoeira (Cadu Gomes/Divulgação - 29/5/12)
Marconi Perillo entrega documentos a parlamentares membros da CPI: governador tenta se desvencilhar das acusações que o ligam a Cachoeira
Ligações telefônicas trocadas entre Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador Wladimir Garcez, às vésperas da assinatura do contrato de venda da casa do governador Marconi Perillo (PSDB), flagraram o contraventor saudando o dono da Faculdade Padrão, Walter Paulo de Oliveira Santiago, por ter emprestado o nome para o negócio. Em 12 de julho de 2011, Cachoeira trocou pelo menos cinco ligações com Garcez, orientando o intermediário da venda da casa de Perillo a estabelecer preço e forma de pagamento pelo imóvel. Em uma das conversas, Cachoeira afirma que as ofertas pelo imóvel do condomínio Alphaville Flamboyant chegaram a R$ 2,3 milhões, mas depois de negociação, o preço caiu para R$ 2,2 milhões. O valor da casa declarada na escritura é de R$ 1,4 milhão. As ligações reforçam a tese de que a transação de compra e venda foi feita entre Perillo e Cachoeira com auxílio de intermediários. 

Logo após firmar a venda do imóvel, Garcez ligou para Cachoeira e disse que está com o “professor Walter”, e que o dono da Faculdade Padrão estava “louquinho”, impressionado com o vulto da transação realizada em seu nome — o diálogo está em uma das gravações inéditas da Polícia Federal obtida peloCorreio. “Estou com o professor Walter aqui, já estou terminando aqui, assim que eu terminar eu encontro com você, mas o menino esteve aqui, o Jayme (Rincón), e disse para ficar despreocupado, porque esteve com o cara ontem à noite”, afirma Garcez na escuta. “E aí, fechou?”, pergunta Cachoeira. “O professor tá mandando um abração aqui pra você. É (fechou), ele tá louquinho aqui, nunca teve o nome dele igual esse aqui, não, Carlinhos”, responde o ex-vereador. “Manda fechar logo, rapaz”, encerra o contraventor. 

Em outro telefonema, Cachoeira demonstra ansiedade pela assinatura da escritura. Garcez responde que a formalização da venda do imóvel só seria feita no outro dia (13 de julho), e Cachoeira pergunta se ele pegou a comissão de R$ 100 mil pela intermediação do negócio. “À vista, né? Nossa senhora, e o trabalho que deu pra olhar esse trem aqui. E você toda hora ligando...”

As escutas contradizem a versão do dono da Faculdade Padrão, que afirmou, em depoimento à CPI, que comprou a casa de Perillo para fazer um aporte no capital de sua firma — a Mestra Administração e Participações. Garcez , assim como Santiago, também foi ao Congresso dar explicações, e disse que comprou o imóvel do governador para lucrar com a possível transação de revenda. Apesar de os monitoramentos telefônicos indicarem que o verdadeiro comprador da casa era Cachoeira, os dois intermediários afirmaram que foram os destinatários do imóvel. 

As versões conflitantes complicam a situação de Perillo, que deve prestar esclarecimentos à comissão na próxima terça-feira. O governador tentou se antecipar à convocação e apareceu de surpresa na CPI no último dia 29, com documentos para rebater as informações que constam no inquérito da Polícia Federal e o ligam ao contraventor. Parlamentares que integram a base do governo, no entanto, não abriram mão da convocação do tucano.

Pressão
Conversas registradas entre o contraventor e a mulher, Andressa Mendonça, justificam a pressa do bicheiro em adquirir novo imóvel. Em 11 de junho, pouco mais de um mês antes de a venda da casa de Perillo ter sido fechada, Andressa pressiona Cachoeira a deixar o apartamento no prédio Excalibur — onde vivia com a ex-mulher Andrea Aprígio — e reclama que ficou sem lugar para morar após deixar o ex-marido, Wilder Pedro de Morais, suplente do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). “Você falou pra mim que eu não precisava pegar nada dele”, reclama a mulher de Cachoeira. O contraventor sugere, então, que os dois passem a viver no Excalibur, mas ela rejeita a oferta. “Não quero morar nesse apartamento que ela morou, dá azar.” Em seguida, Andressa relata itens do imóvel ideal: “Eu acho que você deve comprar uma casa nova, um projeto novo, de uns mil metros quadrados, uma casa de cinco quartos. Vou te ajudar a procurar”. 


Beneficiária
A Faculdade Padrão, do empresário Walter Paulo de Oliveira Santiago, é uma das maiores beneficiárias das transferências de recursos do governo de Goiás por intermédio da ONG Organização das Voluntárias de Goiás (OVG). A empresa do suposto comprador da casa de Perillo recebe cerca de R$ 1 milhão por mês a título de concessão de bolsas de estudos pela OVG.

 (Bruno Peres/CB/D.A Press - 5/6/12)  

"Não paguei com cheque, paguei em dinheiro, em moeda corrente, notas de R$ 50 e de R$ 100"
Walter Paulo de Oliveira Santiago, em depoimento à CPI na última terça-feira


Agenda
Confira como serão os trabalhos da CPI na próxima semana

Tucano
Na terça-feira, a comissão receberá o governador de Goiás, Marconi Perillo, e espera que o tucano explique a venda de uma casa que acabou nas mãos de Carlinhos Cachoeira. Duas testemunhas ouvidas pela CPI deram versões diferentes sobre a forma de pagamento da casa. PT e PSDB travam luta interna para usar o depoimento de Perillo como arma partidária. 

Secretários
Um dia depois de Perillo, será a vez de o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, falar à CPI. O nome de secretários do governador é citado por integrantes da organização criminosa e Cachoeira demonstra deter informações sobre obras públicas do DF. 

Requerimentos
Depois de ouvir os governadores, a comissão se reunirá na quinta-feira para votar novos requerimentos de convocação de testemunhas e pedidos de quebra de sigilo de envolvidos com a organização criminosa.

 (Bruno Peres/CB/D.A Press - 29/5/12)  
 
Memória
Influência no parlamento

Conhecido por seu envolvimento com Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu à época em que o petista comandava a Casa Civil, Carlinhos Cachoeira voltou ao foco das investigações da Polícia Federal e do Congresso quando foi preso, em 29 de fevereiro, em uma casa que pertencia ao governador de Goiás, Marconi Perillo. Logo após a prisão de Cachoeira, escutas telefônicas que compõem as apurações da Operação Monte Carlo foram vazadas, revelando a intimidade entre o senador Demóstenes Torres (foto) e o contraventor. 

No início, as gravações davam conta apenas de que o parlamentar fora presenteado com uma cozinha no valor de US$ 27 mil de Cachoeira, às vésperas de seu casamento. Demóstenes procurou os colegas parlamentares e, em 6 de março, ocupou a tribuna do Senado para um ato de desagravo. Ele alegou que desconhecia as atividades ilícitas de Cachoeira e que os dois mantinham apenas relações de amizade. 

Mas novas informações da PF indicaram que Demóstenes era acionado pelo contraventor para utilizar o mandato em favor de interesses de Cachoeira. Apurações também flagraram elos entre Cachoeira e a empreiteira Delta, uma das empresas com maior número de contratos do governo federal na execução do PAC.

A rede de contatos de Cachoeira no parlamento ainda incluía os deputados Sandes Junior (PP-GO), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Rubens Otoni (PT-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ). Para investigar a influência de Cachoeira com pessoas públicas — incluindo Marconi Perillo — e negócios governamentais, o Congresso instalou a CPI, enquanto os conselhos de Ética da Câmara e Senado apuram o envolvimento dos parlamentares citados nas investigações da PF.

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